Dogmática Católica Romana (Herman Bavinck)

Depois do século 10, Graças, em boa medida, as reformas monásticas e as Cruzadas, nova vida agitou a igreja do ocidente. O nascimento das universidades levou a uma teologia científica fazendo uso do método escolástico. Embora o escolasticismo tenha trazido importantes benefícios para o estudo da teologia, ele também desenvolveu um caráter que o deixou desacreditado. Negativamente, o escolasticismo negligenciou o estudo da escritura e outras fontes originais; positivamente, ele esteve muito associado a metodologia filosófica de Aristóteles. Perdendo sua conexão com a fé viva da igreja, a dogmática se tornou um sistema filosófico.

A teologia escolástica passou por três fases, e começam com desejo sincero de Anselmo de aprofundar o entendimento dado pela fé quanto à forma de Anselmo estava mais próxima dos diálogos de Platão do que do método escolástico aristotélico. Na obra de Pedro Lombardo e de Alexandre de hales, a teologia se moveu para além dos tratados individuais, para manuais sistemáticos sobre dogmática e ética. Apesar da oposição de alguns platonistas, o método aristotélico, nas mãos de Alberto Magno, Tomás de Aquino e Boaventura tornou-se o modo acerto de defender a doutrina da igreja. O escolasticismo não tem esse alto nível, mas, na obra de Duns Scotus, e especialmente no nominalismo, a teologia perdeu sua certeza. Como resultado, tanto no ceticismo quanto no misticismo de Erigena, Eckhart e Bohme floresceram, apesar da condenação eclesiástica.

Sob a influência em particular do neoplatonismo oficialmente aprovado de Pseudo-Dionísio, o misticismo se associou aos esforços monásticos para alcançar Deus através da contemplação, e o conhecimento teológico foi frequentemente menosprezado.

Os tempos medievais também deram origem a importantes movimentos de protesto, incluindo os cátaros, os valdenses e os precursores "protestantes", tais como John Wycliffe e John Huss. Muito embora o movimento conciliar na igreja atraísse muitos, pouca reforma real foi realizada. A Igreja Católica Romana resistia à reforma e agiu assim também por ocasião da Reforma Protestante do século 16. A Igreja Católica Romana pós-tridentina foi novamente moldada por Tomás de Aquino, com a diferença principal sendo o estudo diligente da Escritura e da tradição por escolásticos como Suarez. Ocupados como estavam os neo-escolásticos com as polêmicas com os teólogos da Reforma, a teologia escolástica assumiu forma, método, linguagem e articulação mais simples. 

A teologia neo-escolástica surgiu e floresceu na Espanha através dos (primeiramente dominicanos) seguidores de Francis Vithona, Melchior Canus e Pedro de Soto. Mas foram especialmente os jesuítas, como Belarmino, Pedro Canisius e Fr. Suarez, que contribuíram para seu reavivamento e fluorescência. Graças ao seu Pelagianismo, os jesuítas divergiram de Aquino sobre as doutrinas do pecado, do livre arbítrio e da graça. A obra dos dominicanos agostinianos, como Baius de Louvain e, mais tarde, Cornelius Jansen, bispo de Ypres, finalmente foi condenada, pela frequentemente reafirmada bula Unigenitus (1713). O Pelagianismo triunfou na dogmática, no probabilismo, na ética e no curialismo papal na igreja. 

O neo-escolasticismo foi submetido a um ataque severo pelo racionalismo moderno de Bacon e Descartes. Estudos históricos e críticos empurraram a teologia para o lado e o escolasticismo se retirou para as escolas. O deísmo e o naturalismo surgiram e influenciaram, ou relegaram a segundo plano, a teologia católica romana. Em 1773, a ordem jesuíta foi suprimida pelo Papa Clemente XIV. O conflito com os teólogos protestantes foi empurrado para segundo plano, e a luta foi travada contra os livres-pensadores e os incrédulos. Com filósofos como Jacobi, Schelling e Hegel revisando a doutrina cristã e a teologia em termos de filosofia especulativa, alguns foram levados a uma posição conciliatória e mediadora, unindo a teologia cristã e a filosofia especulativa.

Contudo, esses esforços não foram satisfatórios, e o século 19 testemunhou o renascimento do neo-escolasticismo. A ordem jesuíta foi restaurada em 1814, e a autoridade papal foi aumentada pela proclamação do dogma a respeito da concepção virginal de Maria, em 1854, pela publicação do Syllabus de Erros, em 1864, e, finalmente, pela aprovação da infalibilidade papal no Concílio Vaticano I, em 1870. Em 1879, o Papa Leão XIII, em sua encíclica Aeternis Patus, aclamou Aquino como o doutor do ensino da igreja e o tomismo readquiriu força na teologia católica romana. Restrito, como estava, à vida escolar, o tomismo não teve a capacidade de alimentar ou renovar a piedade católica romana. É mais provável que a Reforma do Catolicismo ou o americanismo católico romano, com sua aceitação de muita coisa que é boa na vida moderna, conduza a igreja romana a uma séria auto-avaliação.

Extraído de: BAVINCK, Herman. Dogmática Reformada. São Paulo, Cultura Cristã, 2012, p. 143-144.

NOTA DESTE BLOGGER:
Bavinck, de fato, estava certo. Anos mais tarde, entre os anos de 1961-1965, o Concílio do Vaticano II, provocou algumas mudanças de perspectivas da Igreja Católica Romana.

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