A CRISE DE 1962 A 1967 E O MILAGRE ECONÔMICO
Trabalho
elaborado como requisito parcial para composição da N-2, na disciplina de Economia
Brasileira Contemporânea I, ministrada pelo professor:
Mâncio Lima Cordeiro em Março de 2013.
1. INTRODUÇÃO
Este
trabalho tem como objetivo abordar alguns aspectos da crises de 1962 à 1967 e o
milagre econômico. Para tanto, descreve-se primeiramente o período de 1962, as
heranças deixadas pelo Plano de Metas e instabilidade política do período.
Depois se faz uma abordagem da política econômica do início do período militar,
dando ênfase ao Programa de Ação Econômica do Governo – PAEG, e suas
conseqüências para a economia. Em seguida, passa-se a falar sobre o milagre
econômico, suas causas, características e conseqüências para o quadro econômico
e social do país. Ao final, tem-se uma breve conclusão do assunto abordado.
O
período de Juscelino Kubitschek acabou deixando muitas heranças negativas para
o período seguinte. Dentre elas, destacam-se a inflação alta, o déficit público
elevado e a deterioração das contas externas. Tudo isso na certeza de
encontrar, cinco anos mais tarde, um país saneado, mas estagnado, pronto para
reconduzi-lo a mais cinco anos de desenvolvimentismo presidencial.
Portanto,
pode-se afirmar que a economia brasileira teve um processo de descontinuidade a
partir de 1961. Essa descontinuidade foi agravada com o momento de
instabilidade política após a renúncia do presidente Jânio Quadros. Este, para combater
a inflação, usou como mecanismo uma reforma na política cambial, mas seus
efeitos são difíceis de constatar dado o descontrole monetário, fiscal e
creditício proporcionado pela renúncia do então presidente em 25 de agosto de
1961.
João
Goulart então assume e procura também formular uma política de combate a
inflação e, ao mesmo tempo, abarcar uma estratégia de desenvolvimento. Para
tanto, é elaborado o Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social, sob a
chefia do então ministro da fazenda Celso Furtado. Contudo, mais uma vez as
instabilidades políticas, bem como a desistência de Goulart em manter a
política de corte de gastos públicos – promovendo aumentos do salário mínimo
bem como de empréstimos ao setor privado, ocasionou um fracasso no plano e a
renúncia do então ministro.
Dessa
forma, podemos inferir que tanto o Governo de Jânio Quadros quanto o de João
Goulart sucumbiram à mencionada dificuldade de formar coalizões
antiinflacionárias. Para piorar, tiveram de enfrentar uma herança
macroeconômica muito pior da que recebera JK ao assumir a Presidência. Mas
também assumiram o comando de uma economia muito maior e mais complexa, e que
ainda digeria as transformações que sofrera a partir do Plano de Metas. Os
desequilíbrios tiveram efeitos macroeconômicos perversos, os quais Quadros e
Goulart não tiveram como solucionar. A deterioração do quadro macroeconômico se
agravaria com a inesperada renúncia do primeiro, e passaria incólume ao Plano
Trienal. Mas sua persistência ajudaria a conturbar um quadro político já
bastante instável, que culminaria com o golpe civil-militar de 1964.
3. O PAEG E A CRISE DE 1967
Em
1964, ocorre o golpe militar e com ele acaba-se o chamado período do populismo.
Para combater a inflação, surge o Programa de Ação Econômica do Governo – PAEG
que previa uma política monetária restritiva e a busca por um menor déficit
público. Neste sentido, também deveria ser controlada a inflação diminuindo a
emissão de papel moeda, assim como o crédito. Dentre as reformas executadas
estava a criação do Banco Central e do conselho Monetário Nacional. Destaca-se
ainda a criação do BNH (Banco Nacional de Habitação) e do Sistema Financeiro de
Habitação, para com isso buscar atender a questão da moradia e aproveitar o seu
grande potencial de geração de empregos diretos. Alem disso, tinha-se o
objetivo de aumentar a arrecadação, que foi feita com a reforma tributária,
além da criação do PASEP, PIS e do FGTS.
Com
essas medidas houve retração da inflação que passou 90% em 1964 para 20% em
1968, segundo GREMAUD. Contudo, isso também trouxe quedas na taxa de
crescimento da economia, ocasionando críticas e abalos na unidade do novo bloco
de poder. Além disso, um aspecto apareceu o qual se mostrou fundamental para o
milagre econômico posterior: a formação de uma capacidade ociosa no setor
industrial.
4. O MILAGRE ECONÔMICO
Define-se
o milagre econômico como o período de intenso crescimento do PIB e da produção
industrial entre 1968 e 1973. Neste ciclo expansivo, observou-se mais uma vez a
predominância dos setores produtores de bens duráveis e de bens de capital, a
partir da estrutura industrial implantada ainda no Plano de Metas. Contribuíram
para o milagre, além da causa citada na seção anterior, os seguintes aspectos: queda
do salário de 1964 a
1967; a dinamização do mercado, como a velocidade de rotação do capital;
redução dos custos através da ocupação da capacidade ociosa; melhoria das
exportações através de incentivos especiais; o retorno do capital estrangeiro
pelo investimento direto e por empréstimos e financiamentos; e o crescimento da
economia mundial também permitiu a superação das taxas históricas de
crescimento.
Merece
destaque o papel do economista Delfim Neto e sua equipe econômica. Estes interpretaram
que, após o ajuste de contas efetuado pelo PAEG, a inflação passou a apresentar
um forte componente de custos. Para que esta continuasse a cair, buscou-se como
solução a retomada do crescimento econômico, através de uma política monetária
expansionista e um grande aumento no crédito ao setor privado. Assim, em meados
de 1968 foi lançado o PED – Plano Estratégico de Desenvolvimento, cujas
prioridades eram: (1) estabilização gradual de preços sem metas explícitas de
inflação; (2) Fortalecimento da empresa privada; (3) Consolidação da
infraestrutura e; (4) ampliação do mercado interno. Embalada pelo PED, a
economia brasileira iniciou a fase do milagre em 1968, alcançando um
crescimento vigoroso, que se estendeu até 1973.
Podem-se citar duas conseqüências do milagre
econômico: o endividamento externo e a maior desigualdade social. O primeiro
ocorreu por causa da captação de recursos do exterior e seu repasse para
empresas de dentro do país sem uma necessidade estrita de empréstimos externos
que financiassem grandes déficits em transações correntes. Já o segundo, esteve
associado a um intenso crescimento da acumulação capitalista beneficiado por
altíssimas taxas de juros, resultantes por sua vez da compressão dos salários
dos trabalhadores.
4. CONCLUSÕES
A
partir do que foi exposto, conclui-se que o período 1962-1964 foi marcado por
instabilidades políticas que influíram diretamente nas variáveis econômicas.
Tudo isso, associado ao quadro de inflação alta e esgotamento do modelo de
substituição de importações fizeram com que a recessão fosse algo constante no
período.
Com
a autonomia de um regime ditatorial, os militares aplicaram uma política
econômica puramente ortodoxa, pautada na restrição monetária e fiscal. A
inflação foi contida, contudo, também houve retração econômica o que,
adicionado a rigidez da política salarial, gerou críticas e protestos,
principalmente, dos setores sindicais. Porém, essa mesma retração foi
importante para que se criasse uma capacidade ociosa no setor industrial,
contribuindo para o período denominado “Milagre Econômico”.
Como
conseqüências do “Milagre Econômico” tivemos um crescimento médio do PIB em
torno de 11 %, porém, houve um aumento do endividamento externo e um aumento na
desigualdade social do país. Essas conseqüências negativas ficariam mais
evidentes na década de 1980, logo após o PND II.
BIBLIOGRAFIA:
GIAMBIAGI,
Fábio; VILLELA, André (Orgs.). Economia
brasileira contemporânea. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. Capítulo 03: Reformas,
endividamento e o “Milagre” Econômico (1964-1973) –
págs. 69 - 92.
GREMAUD,
Amaury Patrick; MARQUES, Rosa Maria (Orgs.). Economia Brasileira conteporânea. 6. Ed. São Paulo: Atlas, 2007. Capítulo 15: Da crise ao milagre
(1960-1973) – págs. 338 – 413.
REGO,
José Márcio; MARQUES, Rosa Maria (Orgs.). Economia
Brasileira. 3. Ed. São Paulo: Saraiva, 2006. Capítulo 08, 09 – págs. 106 – 130.
SOUZA,
Nilson Araújo de. Economia brasileira
contemporânea: de Getúlio a Lula. São Paulo: Atlas, 2007. Capítulo 04: O Novo Modelo Econômico e o
“Milagre Brasileiro” – págs. 61 - 88.
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