Pode não pastor!

“visto que ninguém será justificado diante dele pro obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado.(Romanos 3. 20)

    Um amigo da faculdade me deu um apelido carinhoso quando descobriu que eu era evangélico e presbítero de uma igreja. Ele começou a me chamar de pastor e, desde então, nunca parou.

    Eu nunca me incomodei com o apelido. Aliás, se isto me proporcionasse oportunidades de falar com ele sobre o evangelho, que seja! Vou aproveitar! E não é que oportunidades apareceram!

    Certa vez, estava eu com um grupo de colegas conversando sobre música em uma lanchonete da universidade. Quando o assunto entrou para área do Rock eu me empolguei e comecei a falar dos meus gostos. Foi aí que esse meu amigo, berrou:

- Mas você não pode ouvir “música do mundo”, pastor!

- E por que não? Retruquei.

- Por que é pecado!

- E por que é pecado?

    Aí sabe como é? Conversa de amigos vai e volta de assunto toda a hora. Então, alguém falou outra coisa que não me lembro, e o papo seguiu. Mas essa não foi a única vez. Outra vez, foi em um papo dentro da sala de aula enquanto o professor não chegava. Estava falando que eu e mais alguns amigos comemoramos a minha mudança de emprego:

- E vocês fizeram o que? Disse uma amiga que estava na sala.

- Jogamos boliche e depois fomos pra sinuca. Respondi

- Mas pastor, o senhor não pode jogar sinuca! Berrou meu saudoso amigo

- E por que não posso jogar sinuca?

- Por que é um ambiente em antro de perdição, aleloias! Disse ele em tom de brincadeira.

    Depois, a conversa rolou de tal forma que o assunto acabou parando sobre os Dez Mandamentos. Foi aí que descobri o porque de tantos questionamentos do meu amigo que, para efeito de informação, foi criado em uma igreja evangélica:

- Eu ainda não encontrei ninguém que cumprisse os Dez mandamentos! Disse ele em tom firme.

- E você acredita que alguém pode cumprir todos os mandamentos sem falhar em um só ponto? Perguntei.

- Sim, respondeu ele.

- Poxa! Então quando você encontrar com essa pessoa, me apresenta, ok? Disse eu em tom irônico.

    Mas não dava mais tempo de papo. O professor havia chegado.

    Meu amigo é a prova clara de que atualmente o que se tem pregado é um evangelho legalista (se não paganista!). Mas o que seria legalismo? C. J. Mahaney descreve que “legalismo é buscar o perdão de Deus por meio da minha obediência a ele”. O legalismo é uma tentativa de se livrar do jugo do pecado através dos próprios méritos. “Faça isso, mas não faça aquilo, e Deus te abençoará! Seus pecados estarão perdoados, sua casa será próspera, e você desfrutará do melhor desta terra!”

    O problema do legalismo, é que ele se demonstra falho, pois é IMPOSSÍVEL alguém se apresentar justo diante de Deus por suas próprias forças. É isso que Paulo nos revela no versículo citado acima. Deus coloca a lei com objetivo de demonstrar que nós não podemos ser justificados por nossas ações. E por que não podemos? O versículo 23 do mesmo capítulo responde: “pois todos pecaram e carecem da glória de Deus”. Nossa natureza pecaminosa impede que consigamos cumprir a lei de Deus, e com isso o resultado será a morte.

    Mas, então não haverá saída? Não seremos justificados? É aí que Deus, pelo seu profundo amor, decidiu fazer seu plano de redenção. Isso está presente no versículo 24: “sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus;”. Deus nos justifica – nos imputa justiça perante ele, através de Jesus. E isto ele faz GRATUITAMENTE, ou seja, sem requerer nada em troca. Esta afirmação derruba qualquer fagulha de evangelho legalista que possa existir: Não somos salvos pelas obras, somos salvos pela graça (Efésios 2.8).

    Deixar de ouvir determinados tipos de música, ou deixar de praticar alguns jogos não me faz um cristão. Deixar de beber e fumar também não. O que me faz um cristão é crer que o “salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor.” (Romanos 6.23)

    Mas então, posso fazer o que quiser? Paulo explica isso no capítulo 6: “Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante? De modo nenhum! Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos?” Em Gálatas 5 Paulo afirma: “Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão”.

    Acontece é que o legalismo distorce as coisas: Somos para as boas obras e não elas que nos salvam. Vejamos Efésios 2. 10: “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para as boas obras,...”. A salvação pela graça não serve para nos acomodarmos, porém ela possui um propósito para que andemos nos passos de Cristo, buscando a santificação.

    O que eu espero é que mais amigos meus coloquem seus questionamentos e estereótipos sobre mim. Assim poderei ter mais oportunidades de testemunhar a Cristo.

Comentários

  1. muito bem "Pastor", ótimo texto, comentário excelente, com certeza, muitas dúvidas serão esclarecidas, principalmente aos "novos na fé".

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  2. Acredito num sofrimento que Cristo passou para que nós os que
    " Renunciarmos a nós mesmos , nossas vontades , as "Obras da Carne" possamos dar testemunho de Arrependimento. ..
    De sujeição à Deus
    Vigilância
    Possamos praticar os frutos do Espírito.
    Se alguns acham que podem fazer as mesmas práticas de outrora como o hábito de jogar sinuca
    Baralho
    Onde entra " E sereis uma nova Criatura em Cristo"?
    Penso comigo e creio ter o consentimento do Espírito Santo que ;
    Quando convertemos verdadeiramente a Cristo
    Os desejos carnais são o que menos importa
    Mas a Adoração , Consagração e busca incessante pelo Reino do Céu e a sua justiça
    E também o ardente desejo de ganhar almas para Cristo se torna o foco do Cristão.
    Paz do Senhor

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  3. Sábias palavras logo acima. Quanto mais cheio das coisas dos céus menos de nós irá importar. Isso implica que a nossa vontade morreu, e o que verdadeiramente importa é o evangelho.

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  4. tudo me é licito mais nem tudo me convem eu renuncio a vontade de minha carne mais intimidade com Deus terei; fiquem na paz de Cristo

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