RESUMO - A Interpretação das Escrituras na Modernidade (Augustus Nicodemus)

Capítulo 12: A Interpretação das Escrituras na Modernidade

O Iluminismo foi um movimento que serviu de base para as filosofias racionalista e empirista. Estas, embora discordantes quanto a origem do conhecimento, concordavam que Deus estava fora da capacidade humana de conhecer. Assim, muitos teólogos que buscaram conciliar a fé Cristã com estas filosofias acabaram causando uma série de impactos na interpretação bíblica. Os relatos miraculosos descritos na Bíblia passaram a ser vistos como invenções do povo de Israel da Igreja primitiva. Até mesmo a ressurreição de Jesus foi desacreditada. Para tanto, os críticos da época procuraram tecer uma distinção entre a Fé a História: eventos relacionados a milagres e a ressurreição se encaixam no primeiro aspecto, enquanto que ocorreu de verdade deve ser buscado sem considerar tais elementos como históricos.
Dessa forma, seria impossível considerar neste tipo de pensamento a inerrância e a infalibilidade da Escritura. De fato, essa foi a alegação dos intérpretes nesta época. Em seus entendimentos, a Bíblia deveria ser tratada como um livro comum, desvencilhada dos pressupostos da inspiração, bem como dos documentos dogmáticos e confessionais. Para eles, somente assim se poderia obter a verdadeira mensagem que a Bíblia procura passar.
Consequentemente, uma nova base para a exegese precisava ser firmada. E como não havia espaço para considerar a infalibilidade da Escritura e, diante da influência da filosofia racionalista, coube a razão ser o instrumento que diria aquilo que deveria ser considerado na interpretação bíblica. Daí surge a aplicação do conceito de “Mito” na análise da Escritura. Aquilo que não é compreensível pela razão humana é classificado como “mito”, considerando que esta foi uma forma das pessoas da época bíblica explicarem fenômenos que não saberiam justificar racionalmente. Da mesma forma, houve o abandono da leitura cristológica do Antigo Testamento, para um método que procurava interpretar os dois testamentos de forma independente.
Também é importante destacar a dialética hegeliana, que contribuiu para um abordagem da história em que Deus não precisaria ser invocado para um correto entendimento. Seu método também foi aplicado na teologia, tanto para se fazer interpretação bíblica, quanto para traçar a história da igreja primitiva.
O método hermenêutico que surge desse período é chamado de método histórico-crítico. Dele surgem metodologias críticas que discordam em aspectos como objetivos e metodologia, mas que concordam quanto aos pressupostos elencados acima. São eles: a crítica das fontes, a crítica da forma, e a crítica da redação.
A crítica das fontes procura identificar a autoria dos diversos autores dos textos e separar estes por cada autor, a fim de verificar a sua teologia. Com isso, parte do pressuposto de que a Bíblia não é infalível e de que sua autoria não é aquela tradicionalmente aceita, como no caso do Pentateuco a Moisés ou dos Evangelhos Sinóticos em relação a Mateus, Marcos e Lucas. Com isso, conclui que a Escritura demonstra ser um texto conflituoso entre si. A crítica das fontes foi desacreditada nos últimos anos devido ao seu caráter especulativo, embora ainda persista em alguns seminários.
A crítica da forma procura analisar o período anterior a formação dos escritos bíblicos. Dessa forma, há uma busca por informações de lendas e mitos das religiões de outros povos da mesma época, a fim de se fazer uma comparação com a Escritura. Com isso, muitos estudiosos acabaram encontrando supostas semelhanças entre os relatos bíblicos e os relatos pagãos. Cabe então ao hermeneuta que usa este método tirar todos os elementos míticos da Bíblia e assim encontrar a sua verdadeira mensagem.
Por fim, a crítica da redação se atém a identificar aqueles que editaram e organizaram a Bíblia, dando a ela a forma pela qual a conhecemos. Portanto, diferencia-se das demais por não buscar as fontes originais, nem a sua tradição oral anterior. Os que se utilizam deste método entendem que ao analisar a teologia dos redatores, conseguiriam chegar aos motivos que o fizeram editar o texto bíblico da forma como está, e assim, entender a teologia do período em que viviam.

Diante dessa tentativa de conciliação entre a filosofia racionalista e a fé cristã, surge o chamado Liberalismo Teológico. Em que pese as diferenças entre aqueles que adotam esta teologia, essa corrente teológica caracteriza-se por: 1) Negar a inspiração e a infalibilidade da Escritura e exaltar a experiência ante a revelação; 2) Rejeitar os credos e confissões, considerando-os como não essenciais; 3) Colocar o Cristianismo em pé de igualdade as demais religiões; 4) Negar a natureza pecaminosa do homem e colocar-lhe como alguém que pode fazer o certo desde que bem orientado; 5) Rejeitar a divindade, a morte e a ressurreição de Cristo da forma como é apresentada pela ortodoxia e; 6) Declarar que todos os homens são filhos Deus, independente de sua crença, e de que ele ama a todos.

Extraído de: 
LOPES. Augustus Nicodemus. A Bíblia e seus interpretes. São Paulo: Cultura Cristã, 2007. (com adaptações)

Comentários

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