Resenha Crítica - Teologia, Igreja e Academia: Os opostos se atraem?
COSTA. Herminsten Maia Pereira da. Teologia, Igreja e Academia: Os opostos se atraem? São Paulo, Mackenzie, 2010.
O presente artigo tem como propósito demonstrar que teologia, igreja e academia são elementos que se complementam. Fazendo uso de uma abordagem histórica, o autor, que é pastor presbiteriano, teólogo e escritor, demonstrará a relação harmônica que existiu (e que deve existir) entre eles.
O artigo pode ser dividido em quatro partes. Na primeira, o autor faz uma análise acerca do termo “teologia”. Usando de argumentos gramaticais e históricos, mostra que a palavra tem sua origem na filosofia grega e que somente entre os séculos IV e V, ela se desvinculou da referida origem para ser relacionada à compreensão do Deus cristão. Dadas as diversas definições que a palavra teologia teve ao longo da história da igreja, o autor a resume nos seguintes termos: “Tomemos, operacionalmente, a definição de teologia como sendo um estudo da revelação de Deus.” (p. 06).
Na segunda parte, o autor faz uma análise semelhante a do termo teologia, mas dessa vez, a palavra é “academia”. Mais uma vez a origem do termo é grega e passa a ser incorporada pela teologia a partir dos humanistas e renascentistas dos séculos XIII e XIV. Assim, o lugar do aprendizado passou a ser o local visível de encontro entre a filosofia, a religião e a ciência.
A terceira parte destaca a vida e obra de um dos mais ilustres humanistas, o qual foi um dos grandes nomes da reforma protestante: João Calvino. Este teve uma sólida formação acadêmica, o que é evidenciado através do seu comentário ao livro De Clementia, de Sêneca. Além disso, Calvino demonstrou em sua vida apoio a colegas humanistas tais como Guillaume Budé (1467-1540), Erasmo (1466-1536) e Juan Luis Vives (1492-1540).
Um dos eventos marcantes na vida de João Calvino é a fundação da Academia de Genebra. A filosofia dessa instituição tem raízes claramente humanistas, mas destacava-se por colocar a Bíblia como base de formação educacional, não retirando, porém, o importante papel da família e do Estado nesse processo. Além disso, é interessante a afirmação do autor sobre o pensamento de Calvino acerca da relação entre a igreja e academia: “Calvino não concebia a Academia distante da igreja, antes, sustentava dois princípios fundamentais: a unidade da Academia e a união íntima da Academia com a Igreja.” (p. 18). Portanto, os alunos não só recebiam uma formação intelectual, mas também espiritual, de forma que daquela instituição saíssem verdadeiros transformadores do mundo. Era, pois, o cumprimento de Romanos 12. 1-2.
A quarta parte do artigo é um apelo para que haja uma teologia acadêmica associada à piedade. O autor, nota que há certa tendência de uma teologia acadêmica a qual está desassociada da igreja. Para ele, somente o oposto é que dá razão de ser a teologia. E não é só isso: é através do exercício da piedade que o teólogo deixa de ser apenas um pensador árido, para ser um discípulo de Cristo que use seus pensamentos e suas ações para glorificar a Deus.
Em suma, o artigo apresenta 174 notas de rodapé, o que parece ser exagerado e torna a leitura mais difícil. Entretanto, evidencia também o zelo e a profundidade do autor em sua pesquisa para a elaboração do texto. Este, portanto, fundamenta sua tese tanto pelo conteúdo do artigo como pela sua forma de descrever, a saber: igreja, teologia e academia são complementares e não devem de forma alguma distanciar-se.
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