Quatro Aspectos Relevantes Sobra a Perfeição em Filipenses 3.12-16


Introdução

A Igreja de Filipos, como toda igreja, tinha problemas. Um deles era a divisão que um grupo de judaizantes estava fazendo, afirmando que confessar a Jesus como Senhor e Salvador não era suficiente, mas que ainda era necessário seguir os ritos da era mosaica, em especial a circuncisão. É sobre essa questão que Paulo se dirige no capítulo 3 e procura refutar tais teses, alegando que a verdadeira circuncisão somos nós. A razão da Alegria cristã é Jesus Cristo o qual operou a verdadeira circuncisão. Portanto, “nós é que somos a circuncisão”. (Fp. 3.3).

Nos versículos posteriores, Paulo mostra como ele poderia confiar se esta tivesse algum valor, afinal ele era: a) um Judeu “puro”, ou seja, sem misturas ou descendência gentílica; b) circuncidado ao oitavo dia, e não na idade adulta como alguns judaizantes; c) membro da seita dos fariseus, a mais severa do judaísmo; d) perseguidor da Igreja, isto é, coerente com os seus princípios; e e) Irrepreensível na sua vida, não podendo ninguém lhe acusar de hipocrisia ou qualquer coisa parecida.  Dessa forma, não poderia ser ele ser justificado pela carne? Se assim o fosse, Paulo seria “o Cara”.

Entretanto, Paulo demonstra que isso não vale absolutamente nada, quando estamos diante do conhecimento de Cristo Jesus. Este nos revela o quanto Deus é grande e o quanto somos pequenos; o quanto o Senhor é santo e o quanto nós somos pecadores. Ao conhecer Jesus, Paulo viu que em si mesmo não havia justiça alguma. Somente a Justiça de Cristo é que poderia lhe justificar diante de Deus.

Dessa forma o cristão inicia a sua caminhada rumo a perfeição. Mas o que seria isso? Já vimos que a salvação, muito mais do que um único ato, é um processo de desenvolvimento o qual o discípulo do Senhor segue até o momento da Glória (Fp. 2.12-18). Isso é diferente do que pregavam os Judaizantes, os quais afirmavam que haviam chegado a um estado de perfeição. Mas, como já foi visto, esta perfeição não existe, não passa de trapos de imundícia. Assim, em que consiste a perfeição cristã? É nesse sentido que vou expor os versículos 12 a 16, procurando identificar alguns aspectos relevantes sobre a perfeição.

1. A perfeição ainda não ocorreu plenamente (v. 12a; 13a) 

A primeira afirmativa de Paulo ressalta o fato de que nós ainda não somos perfeitos. Não chegamos na glória. O velho homem ainda habita e ocorre uma luta no nosso ser, onde as vezes o queremos fazer não fazemos e o que não queremos fazer, isso fazemos. Após demonstrar que abriu mão de tudo o que possuía para seguir a Cristo, Paulo ressalta a sua limitação enquanto homem.

Para explicar a sua afirmativa, Paulo usa a figura de um Atleta. O caminho da perfeição é como uma corrida, e o recebimento da perfeição (ou obtenção) é o prêmio concedido pelo atleta. Por mais que existam esportistas espetaculares, que se superam e conquistam prêmios abundantemente, não existem atletas perfeitos, isento de erros. Da mesma forma são os cristãos.

Muitos por aí se alegam “Super Crentes”. Certa vez, recebi um e-mail sobre os nomes esquisitos de algumas igrejas. Uma delas me chamou atenção. “Igreja do Pastor Fulano de Tal: O homem que não tem pecados”. A arrogância misturada com a ignorância leva um miserável homem a presumir que possui um atributo somente conseguido por Jesus Cristo. O que o texto mostra, é que esse estado de graça ainda não chegou: a nossa corrida ainda está em andamento.

2. A perfeição só se adquire olhando para Jesus (v. 12b; 14) 

Seguindo a analogia da analogia do atleta, Paulo usa a Palavra prosseguir, que no grego é diôkô, a qual cabe neste contexto. Todo esportista de elite, procura se superar a cada dia: se já tem um recorde nacional, vai atrás de um recorde mundial; se já um mundial, ele irá procurar melhorá-lo. O anseio por crescer e melhorar a cada dia faz parte da rotina do atleta. E tudo isso terá um prêmio.

Da mesma forma é com o cristão. Paulo anseia alcançar a perfeição. Ele busca a cada dia esse objetivo. Da mesma forma como o atleta precisa treinar, o cristão precisa buscar o conhecimento de Cristo. Dessa forma, ele viverá o poder da ressureição, participará dos sofrimentos de Cristo e se conformará com ele na sua morte, para assim alcançar a ressureição dentre os mortos (v. 10,11). O prêmio do atleta Cristão, é uma vida plenamente satisfeita em Jesus. É com ele, na glória, que experimentaremos a plenitude da perfeição.

De fato, não há outra maneira de se alcançar a perfeição, a não ser que seja por intermédio de Cristo. Ele mesmo afirma que é “O caminho, a verdade e a vida.” (João 14.6). Não existe outra forma de achegar a Deus a não ser por Jesus. O trono da Graça, é um privilégio dado somente aqueles que confessam a Cristo como senhor de suas vidas (Hb. 4.14-16).

Portanto, não há circuncisão que nos aproxime da perfeição, a não ser aquela efetuada por Jesus. Não há cerimonial, nem shofar, nem promessas, nem sacrifícios que nos deem a oportunidade de estarmos junto com o Senhor. Para alcançarmos o prêmio de estar com Ele, precisamos dEle!

3. Para atingir a perfeição, não se pode olhar para trás (v. 13b) 

Interessante é o comentário de MARTIN (2011, p. 153) acerca desse versículo: “O quadro é o do corredor que sabe como uma olhadela para trás pode distraí-lo e, assim, exerce o máximo esforço em prosseguir na corrida.”. Considerando que o nosso alvo é Cristo, devemos ter um olhar sobre uma perspectiva de esperança futura e não de melancolia sobre aquilo que fizemos de errado no passado. “E assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas velhas já passaram; eis que se fizeram novas” (2 Co. 5.17). Paulo não poderia ficar olhando o seu passado com constante tristeza, mas deve recordá-lo sabendo que sem Cristo ele era um homem injusto e pecador, porém, que foi resgatado pela Graça divina.

Outro detalhe que pode ser levado em conta, estar no fato de que muitos olham para o passado de forma saudosista. “Eu fazia isto; eu era aquilo”. Mas, e atualmente? A santificação é um processo contínuo e progressivo, e não uma aplicação financeira de alto rendimento em que, após ser depositado um certo valor, poder-se-á ficar tranquilo retirando apenas os juros para deleite. Se ontem éramos isso, hoje somos o quê? Não podemos viver apenas de passado. A vida cristã possui perspectiva futura!

4. A perfeição caminha junto com a maturidade (v. 15)

Nos versículos 12 e 13, Paulo demonstra que a perfeição ainda não foi alcançada. Porém, no versículo 15, ele afirma: “Todos, pois, que somos perfeitos...”. Existe alguma contradição ai?

Interessante a tradução da NVI que diz: Todos nós que alcançamos a maturidade devemos ver as coisas dessa forma, e se em algum aspecto vocês pensam de modo diferente, isso também Deus lhes esclarecerá.”. Em seu comentário, BRUCE (2008) concorda com a tradução citada.

Portanto, Paulo não está falando da Perfeição em um sentido absoluto mas sim de maturidade. Mas o que seria então a maturidade cristã? Segundo STOTT (2006) consiste em um relacionamento profundo e consistente em Cristo. Assim, “Nada é mais importante para o discipulado cristão maduro do que uma visão clara, renovada e verdadeira do Jesus autêntico” (ibid, p. 39.). Ter essa visão é essencial para o cristão, principalmente em nossa época quando a igreja parece experimentar um crescimento quantitativo impressionante, contudo, sem profundidade. As pessoas estão vendo um Jesus que: a) atende todos os seus desejos; b) Que que queria libertar o povo para fundar uma anarquia; c) Que quer fazer de meros homens super heróis. Mas o que Ele quer de fato, são pessoas que procurem desenvolver um relacionamento espiritual consiste. Só assim, conseguiremos enxergá-lo como Ele realmente é.

Conclusão 

Enquanto a perfeição não chega, enquanto o glorioso momento de estarmos junto ao Pai ainda não aconteceu, devemos caminhar com aquilo que já alcançamos. Esta é uma palavra de conforto e exortação de Paulo para Igreja. Esta é uma palavra de conforto e exortação a nossa vida. Não devemos ter um tipo de obsessão ou tristeza por algum tropeço que tivemos. Devemos ter a sede de procurar Cristo e conhcê-lo cada vez mais.

BIBLIOGRAFIA UTILIZADA:
BRUCE. F.F. O Novo Comentário Bíblico Contemporâneo Filipenses. São Paulo, Editora Vida, 1992.
GENEBRA. Bíblia de Estudo. Sociedade Bíblica do Brasil.
MARTIN. RALPH. Filipenses: Introdução e Comentário. São Paulo, Edições Vida Nova.
STOTT. Jonh. O Discípulo Radical. São Paulo, Editora Ultimato, 2011.

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