O Atleta de Cristo: Uma palavra sobre os jogos da mocidade


I Coríntios 9.25-27
               
                Já houve (ou ainda há) certa resistência com relação aos jogos. Por quê? Por causa das confusões, conflitos e problemas que geralmente ocorrem. Alega-se que os jogos não concedem proporcionar a comunhão entre os jovens de várias igrejas.
                Contra-argumentando é necessário dizer que, onde há pessoas, há problemas. E num evento em que se faz uma competição entre pessoas é normal que isso aconteça. Um professor de Educação Física do tempo em que eu estudava no ensino médio declarou:  “É aqui dentro (na quadra) que o ser humano mostra o seu caráter”. Essa palavra me marcou porque vejo que é verdade: é no meio de uma competição que mostramos a nossa honestidade, sinceridade, lealdade diante dos acontecimentos dentro das quatro linhas (ou dentro da piscina, ou da pista de atletismo, etc.).
                Eu vejo que os jogos fazem a gente ver o quanto a gente precisa melhorar como pessoas, e como pessoas cristãs. Por isso, acho importante. Se o irmão meteu um murro na cara do outro, se a irmãzinha botou a mão na bola e depois mentiu dizendo que não, ele está mostrando que ainda existe um “velho homem” dentro dela. Daí, a hora não é somente de punir, mas de tratar esse pecado que habita nesse irmão, para que o seu caráter seja moldado pelo Espírito Santo.
                Apesar de resistir (e resistir bastante), resolvi fazer uma reflexão na Primeira Carta de Paulo aos Coríntios, capítulo 9. 25-27. Neste texto, Paulo usa a analogia de um atleta para defender sua autoridade apostólica. Veremos que essa passagem nos servirá para analisarmos nossa “carreira” como atletas cristãos. O texto é conhecido, principalmente para pregar em cultos de abertura de jogos. Mas é a Escritura e, portanto, ele sempre tem algo a nos ensinar, pois mais repetitiva que seja.

Introdução

                A multicultural cidade de Corinto tem muitas semelhanças com a sociedade de hoje. Por ser uma cidade importante para o transporte de mercadorias para o Império Romano, Corinto atraía a vinda de pessoas vindas dos mais variados lugares, com culturas, costumes e religiões distintas entre si. Como algumas cidades grandes dos dias hoje, era eclética, populosa e moralmente corrupta.
                Paulo uma funda uma igreja naquele local com pessoas que viviam nesse momento descrito acima. Após alguns anos longe, ele escreve esta carta para tratar de alguns problemas que a igreja estava enfrentando. Do capítulo 1 ao 4 ele trata sobre as divisões que estavam ocorrendo na igreja; no capítulo 5-7 sobre problemas de imoralidade e questões acerca do casamento; no capítulo 8 sobre comidas sacrificadas aos ídolos; e finalmente, o capítulo do texto que nós lemos aborda a autoridade de Paulo como Apóstolo.
                Um dos grandes questionamentos que eram feitos na igreja quanto à natureza apostólica de Paulo era o fato de não ter sido sustentado por esta igreja enquanto esteve lá, o que não aconteceu com os demais apóstolos (v. 5). Para refutar essa ideia, Paulo dirá que este era também um direito seu como apóstolo, mas que não o fez para não criar obstáculos a pregação do Evangelho em Corinto. (v. 12). Paulo se colocou em forma de escravo a fim de ganhar o maior número possível para Cristo (v. 19), analisou as características culturais de cada grupo para que ele pudesse evangelizar da forma mais eficiente possível (v. 20-22). E tudo isso por causa do evangelho (v. 22).
                Essas atitudes de Paulo poderiam ser explicadas através de uma analogia? Parece que sim e o próprio faz isso, a partir do versículo 24, quando compara a vida cristã com a vida de um atleta. Entretanto, ele primeiramente coloca a igreja de Corinto nessa analogia, afirmando que eles devem correr de forma a alcançar um prêmio assim como os atletas.
                Vamos então olhar para estes versículos, e verificar as características que um “atleta” como eu e você devemos ter.

I. UM ATLETA EM TUDO SE DOMINA
                Significa não ser dado a exageros, ou seja, ter autocontrole. Um atleta devia se dominar em tudo para conseguir o seu título.
                Domínio em quê? “...em tudo”. Diante de qualquer situação ele devia se dominar em todos os sentidos. Diante das dificuldades enfrentadas em sua carreira como atleta de Cristo, como dúvidas sobre sua verdadeira conversão, perseguições, afrontas, e perigos de viajem, Paulo tinha que se dominar para poder seguir adiante. Motivos não faltaram para que ele “chutasse o balde”. Mesmo tendo o direito de ser sustentado pela igreja, o Apóstolo abnega esse direito para que não houvesse obstáculos na pregação do evangelho.
                Constantemente nós precisamos exercer autocontrole. Geralmente, quando se usa esta expressão, relaciona-se com o aspecto emocional. Controlar-se para não revidar a entrada dura do jogador adversário; controlar-se pra não xingar a mãe do juiz quando ele não marca um lance óbvio; controlar-se para não mandar o seu colega de trabalho/faculdade a algum lugar legal, etc. Mas o autocontrole deve ser exercido “em tudo”, o que significa se dominar para não acabar comendo mais do que devia (ou falar mais do que devia, ou ver mais do que devia, ou pensar mais do que devia...); se dominar para não perder hábitos que são importantes para a vida de um cristão, como orar, ler a bíblia, ter solitude, jejuar, congregar e participar de uma igreja...
                Às vezes não conseguimos nos dominar por coisas muito poucas. Paulo conseguiu se dominar quando um direito básico seu não foi lhe dado! Mas esse autocontrole do apóstolo tinha um objetivo. Esse é o nosso segundo ponto.
II. UM ATLETA TEM UMA META
                Paulo em tudo se dominava, mas ele não fazia isso em vão, isto é, “não desferia golpes no ar”. Ele tinha um objetivo, e o apóstolo estava disposto a cumpri-lo a fim de receber a sua coroa incorruptível.
                O objetivo de Paulo é o mesmo objetivo de nós como cristãos: pregar o evangelho. Simples assim. Esse objetivo foi resultado da ação de Deus em sua vida, lá no caminho de Damasco em Atos capítulo 9. A partir de então ele descobriu que sua vida não tinha sentido se não pregasse o evangelho.
                Isso tem algumas implicações. Primeiro é que o método nunca está acima do objetivo, nem a causa acima da consequência. Paulo poderia continuar em tudo se dominando, se esforçando, mas se ele não tivesse um objetivo ele estaria dando socos no ar, não adiantaria nada. Às vezes, achamos que o problema está nos métodos. Estudamos e buscamos os mais ousados elaborados estratagemas. Talvez o nosso problema como igreja esteja simplesmente no fato de que esquecemos nosso objetivo. A história nos mostra que, toda as vezes em que a igreja não estava fazendo a sua missão, ela teve problemas.
                Outra implicação é que objetivo não é necessariamente o prêmio. Este é a parte final da jornada a coroação de tudo o que foi feito. Paulo sabia que pregando o evangelho alcançaria uma coroa incorruptível, que seria a sua recompensa nos céus. Portanto, ao cumprir o objetivo o prêmio virá consequentemente.
III. UM ATLETA SE SACRIFICA
                Na economia, existe um conceito chamado Custo de oportunidade que nada mais é do que o custo de algo em termos de uma oportunidade renunciada (Wikipédia). Por exemplo: o custo de oportunidade de fazer uma aplicação financeira é o lucro que você teria ao abrir uma empresa. Ao escolher a aplicação financeira, abnego da oportunidade de abrir meu próprio negócio e obter lucro com ele. Na vida cristã também é assim. Para conseguirmos algumas coisas temos que abrir mão de outras.
                Em Filipenses 3.2-10, Paulo mostra um pouco desta escolha que fez. Ele era um dos principais nomes do Judaísmo, cumpridor da lei, fariseu da tribo de Benjamin, circuncidado ao oitavo dia. Mas ele em seu tradeoff (conflito de escolha – outro conceito econômico rs) considerou que tudo isso não valia nada e resolveu investir sua vida em Cristo. Essa escolha teve um custo de oportunidade na sua vida.
                E aqui nesse texto, Paulo, apesar de ser apostolo do senhor Jesus, resolveu abrir mão de um direito que ele possuía para cumprir sua meta da melhor forma possível. Ele, mesmo sendo livre, se fez escravo, para ganhar o maior número possível para Cristo.
                Os atletas de alto nível também precisam abrir de mão de algumas coisas para buscarem seus objetivos. Vejamos a rotina de treinamento de Michel Phelps para as olimpíadas de Pequim em 2008:
   “Em Janeiro, deste ano, Michael Phelps seguiu para o Centro de Treino Olímpico, dos Estados Unidos para um mês de preparação. Nadou cerca de 12 a 16 quilómetros por dia, combinando a rotina da natação com musculação, exercícios cardio-respiratórios e, principalmente, treinos para grandes altitudes. A rotina normal de treino de Michael Phelps inclui, além das piscinas, musculação todas as manhãs e exercícios específicos de preparação física, dentro e fora da água.
Este intensivo treino, tem apenas um objectivo: conquistar as oito medalhas de ouro com que sonha nos Jogos Olímpicos de Pequim e superar a marca histórica do nadador americano Mark Spitz, que conquistou sete medalhas de ouro nos Jogos de Munique, em 1972. (extraído de: http://grandefabrica.blogspot.com.br/2008/08/michael-phelps-o-maior-atleta-olmpico.html)
                Treinamentos assim exigem esforço, mas, ao contrário dos atletas que as vezes ficam cansados dessa vida de treinamento e rotina, chegando até mesmo a se meterem com drogas, bebidas além de conseguirem problemas sociais, o evangelho de Cristo trás alívio e descanso não só aqueles que ouvem a palavra, mas também aqueles que a anunciam.
               
CONCLUSÃO
                Tendo chegado até aqui, precisamos nos perguntar. Como anda a nossa carreira como atletas de Cristo? Como vai a nossa vida? Estamos nos lembrando do nosso objetivo? Estamos nos exercitando o domínio próprio em nossa vida? Estamos abrindo de algumas coisas que nos tiram do foco para chegarmos ao nosso prêmio? Precisamos refletir sobre isso. Não estou propondo uma vida cristã como a vida de atletas chineses, que desde crianças são condicionadas a pesados treinamentos. Mas, sim, precisamos refletir se estamos sendo realmente atletas ou meros espectadores. É isso.

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