Resumo Fichamento dos Capítulos II e III do Livro I da Obra Princípios de Economia de Alfred Marshall


LIVRO: MARSHALL. Alfred. Princípios de Economia Política. São Paulo. Ed. Nova Cultural. 1996. Livro I. Capítulo II e III.

              Capítulo II: A Substância da Economia
            “Economia é um estudo dos homens tal como vivem, agem e pensam nos assuntos ordinários da vida. Mas diz respeito, principalmente, aos motivos que afetam, de um modo mais intenso e constante, a conduta do homem na parte comercial de sua vida. Todo indivíduo que tem algum valor põe nos seus negócios o melhor de sua natureza; e no comércio, como em outras atividades, é ele influenciado por suas afeições pessoais, por suas concepções de dever e respeito pelos ideais elevados. A verdade é que as melhores energias dos mais hábeis inventores e organizadores de métodos e instrumentos aperfeiçoados são mais estimuladas por uma nobre emulação do que pelo amor ao dinheiro em si. Contudo, o motivo mais constante para a atividade dos negócios é o desejo da remuneração, a recompensa material do trabalho.” (p. 85)
            “É essencial notar que o economista não se arroga a possibilidade de medir diretamente as inclinações do espírito, mas só indiretamente através de seus efeitos. Ninguém pode comparar e medir exatamente, um em relação a outro, nem mesmo os seus próprios estados de espírito em momentos diversos, nem tampouco pode alguém medir os estados de espírito de outrem, senão indiretamente e por conjectura através de seus efeitos.” (p.86)
            “O economista, porém, estuda os estados de espírito através de suas manifestações, antes do que em si mesmos, e se acha que tais estados oferecem à ação incentivos de força igual, ele os trata, prima facie, como iguais para os seus fins.” (p. 87 – grifo do autor)
            “A medida em dinheiro dos motivos está sujeita a diversas outras limitações, que devem ser examinadas. A primeira delas decorre da necessidade de se terem em conta as variações no montante dos prazeres, ou de satisfação, que a mesma soma de dinheiro representa para diferentes pessoas e em circunstâncias diferentes.” (p. 88)
            “A grande maioria dos eventos de que se ocupa a Economia afeta em proporções quase iguais as diversas classes da sociedade; de modo que se as medidas em dinheiro dos benefícios motivados por dois fatos são iguais, é razoável e de uso comum considerar que as quantidades de benefícios são equivalentes em ambos os casos. E, ademais, como o mais provável é que dois grandes grupos de pessoas tomadas ao acaso em dois lugares quaisquer do mundo ocidental apliquem a mesma quantidade de dinheiro aos usos mais elevados da vida, existe, à primeira vista, alguma possibilidade de que iguais incrementos em seus recursos materiais resultem em iguais aumentos na plenitude de vida e no verdadeiro progresso da raça humana.” (p. 89, 90)
            “[...]o lado da vida de que a Economia se ocupa especialmente é aquele em que a conduta do homem é mais deliberada e onde lhe ocorre, com maior freqüência, ponderar os prós e os contras de uma determinada ação antes de executá-la.” (p. 90)
            “Assim, pois, a parte mais sistemática da vida das pessoas é aquela que elas consagram ao ganho de seu sustento. O trabalho de todos aqueles que estão empenhados numa ocupação qualquer é suscetível de ser observado cuidadosamente, e ser objeto de conclusões gerais, verificáveis por meio de comparações com os resultados de outras observações, e podem ser feitas estimativas do montante em dinheiro ou em poder de compra para lhes dar motivação suficiente.” (p. 91)
            “[...] o dinheiro é o poder aquisitivo geral e se busca como um meio que pode servir a todos os fins, nobres ou baixos, espirituais ou materiais. [...] Assim, pois, ainda que seja certo que o “dinheiro” ou “poder geral de compra” ou o “domínio sobre a riqueza material” seja o centro em torno do qual gira a ciência econômica, isso é verdade não porque o dinheiro ou a riqueza material sejam considerados por ela o fim principal do esforço dos homens, nem mesmo a principal matéria de estudo do economista, mas porque no mundo onde vivemos ele é o meio conveniente para a medida dos motivos humanos numa larga escala.” (p. 91, 92)
            “Os antigos economistas ingleses talvez tenham restringido demasiado sua atenção aos móveis da ação individual. A verdade, porém,  é que o economista, como todos aqueles que estudam a Ciência Social, tem que se ocupar dos indivíduos sobretudo como membros do organismo social. Do mesmo modo que uma catedral é algo mais que as pedras de que é feita, assim como uma pessoa é algo mais que uma série de pensamentos e sentimentos, assim também a vida da sociedade é algo mais que a soma da vida dos indivíduos.” (p. 93, 94)
            “[...] os economistas estudam as ações dos indivíduos, mas do ponto de vista social antes que do da vida individual; e, por conseguinte, pouco se preocupam com as particularidades pessoais de temperamento e de caráter. Eles observam cuidadosamente a conduta de toda uma classe de gente, algumas vezes o conjunto de uma nação ou somente aqueles que vivem numa certa região, mais freqüentemente aqueles que se ocupam com ofício particular num certo momento e num determinado lugar. Com a ajuda da estatística, ou de outro modo qualquer, eles determinam qual a quantia que os membros do grupo em observação estão, em média, dispostos a pagar como preço de uma certa coisa desejada, ou qual a soma que será necessário oferecer-lhes para levá-los a suportar um esforço ou uma abstinência penosa. Esse modo de medir os motivos não é absolutamente exato; se o fosse, a Economia ocuparia o mesmo lugar das ciências físicas mais avançadas, e não estaria, como realmente está, entre as ciências menos avançadas.” (p. 94)

            Capítulo III: Generalizações e Leis Econômicas
É tarefa da Economia, como de quase todas as demais ciências, coligir fatos, ordená-los, interpretá-los, e deles tirar conclusões. [...] Todos os recursos para a descoberta das relações de causa e efeito, expostos em tratados sobre método científico, têm de ser utilizados oportunamente pelo economista. Não há nenhum método de investigação que possa ser propriamente denominado o método da Economia. Mas todos os métodos lhe podem ser úteis no devido tempo, tanto isolados como em combinação uns com os outros.” (p. 97)
“Conquanto o objeto de algumas ciências físicas não seja, pelo menos no presente, suscetível de medida perfeitamente exata, o seu progresso depende da cooperação multíplice de exércitos de trabalhadores. [...] A Economia aspira a um lugar neste grupo de ciências: porque, embora as suas medidas raramente sejam exatas e nunca se apresentem como definitivas, está sempre trabalhando no sentido de torná-las mais exatas, e, destarte, para ampliar o alcance dos assuntos sobre os quais o estudioso, individualmente, possa falar com a autoridade da sua ciência.” (p. 98,99)
“Trata-se de um enunciado muito exato — de tal maneira exato que os matemáticos podem calcular um Almanaque Náutico capaz de mostrar o momento em que cada satélite de Júpiter se há de ocultar por detrás do próprio Júpiter. Fazem este cálculo com muitos anos de antecedência, os navegadores levam-no ao mar, empregando-o para descobrir o ponto em que se encontram. Mas não há tendências econômicas que atuem tão firmemente e possam ser medidas com tanta exatidão como a lei da gravitação — e, por conseqüência, não há leis de Economia que se possam comparar com ela em precisão.” (p. 99)
“As leis da Economia devem ser comparadas às leis das marés de preferência à lei simples e exata da gravitação. Pois as ações humanas são tão variadas e incertas que o melhor enunciado de tendências possível de se fazer numa ciência da conduta humana tem de ser necessariamente inexato e falho.” (p. 99, 100)
“[...] uma Lei Social, é um enunciado de tendências sociais, isto é, uma indicação de que se pode esperar um certo curso de ação de membros de um grupo social sob certas condições. Leis Econômicas, ou postulados de tendências econômicas, são leis sociais que se referem aos ramos da conduta na qual a força dos motivos mais em jogo pode ser medida por um preço em dinheiro. Assim, não há uma linha divisória forte e distinta entre as leis sociais que devam ou não ser consideradas igualmente leis econômicas. Pois há uma gradação contínua das leis sociais em que se envolvem motivos que podem ser medidos por preço, para as leis sociais em que tais motivos pouco têm lugar e que são, portanto, muito menos precisas e exatas do que as leis econômicas, na mesma relação em que estas se encontram para as ciências físicas mais exatas.” (p. 100 e 101)
“diz-se que ação econômica normal é aque se pode esperar, a longo prazo e sob certas condições (desde que sejam persistentes), da parte dos membros de um grupo profissional.” (p. 101)
“Outra confusão de que nos devemos resguardar nasce da idéia de que são normais apenas os resultados econômicos devidos à ação sem embaraços da livre-concorrência. Mas o termo tem que ser aplicado freqüentemente a condições nas quais uma concorrência completamente livre não existe, e dificilmente mesmo se pode supor que exista; e mesmo onde a livre-concorrência é mais dominante, as condições normais de cada fato ou tendência incluem elementos vitais que nada têm a ver com a concorrência, e nem são afins.” (p. 101, 102).
“[...] supõe-se às vezes que a ação normal na Economia é a que seja moralmente direita. Assim deve ser entendido apenas quando, no contexto, a ação está sendo julgada sob o ponto de vista ético. Quando estamos julgando as coisas do mundo como elas são, e não como deveriam ser, teremos que olhar como “normal”, de acordo com as circunstâncias em vista, muita ação que exigiria um extremo esforço para ser paralisada.” (p. 102)
“Diz-se às vezes que as leis da Economia são “hipotéticas”. Naturalmente, como qualquer outra ciência, ela trata de estudar os efeitos que serão produzidos por certas causas, não de um modo absoluto, mas sob a condição de que as outras coisas sejam iguais, e de que as causas possam produzir os seus efeitos sem perturbações. É verdade, porém, que a contingência de se esperar pelo tempo a fim de que as causas produzam seus efeitos é origem de grande dificuldade em economia.” (p. 102, 103)
“Ainda que a análise econômica e o raciocínio geral sejam de larga aplicação, contudo cada época e cada país têm seus próprios problemas; e cada mudança nas condições sociais é provável que exija novo desenvolvimento das doutrinas econômicas.” (p. 103)

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